Publicidade Turística

Muito boa noite a todos vós, nobres pessoas que aqui se deslocaram. Não aqui ao escritório de casa, mas ao humilde espaço online, "Worst Off".

A primeira questão que vos coloco, e que espero que vos deixe a pensar, é: por que razão descrevemos as nossas coisas, quando falamos delas com alguém, tendencialmente com o adjectivo "humilde"? "São sempre bem-vindos, na minha humilde casa..." / "Na minha humilde opinião, tenho que discordar!" / "Ah, aquele sítio é pequenino, humilde, mas muito acolhedor!"

É isso e o carinho que nós pomos em tudo o que fazemos. Até a aletria leva carinho! Jã não chegava açúcar, leite e limão...

Agora outra questão: por que raio é que chamamos Selecção Nacional de futebol a um grupo de pessoas que não é mais do que um conjunto de "cicerones" que serve de guia turístico a equipas de futebol e adeptos estrangeiros que se deslocam a Portugal? Eu não acho que aquilo seja futebol. Aquela profissão é mais uma coisa do género guia-intérprete. Primeiro, muitos jogadores portugueses vivem no estrangeiro. Ou melhor, vivem no estrangeiro para atrair turistas para Portugal. Em segundo lugar, atraem as pessoas (portuguesas e/ou estrangeiras) para os novos monumentos nacionais: os estádios de futebol. Depois nem se interessam por marcar golos. Veja-se os últimos jogos: jogámos há uns tempos contra a Dinamarca e perdemos 3-2, mas os dinamarqueses não se queixam de visita a Lisboa e ao Estádio de Alvalade. Dizem mesmo que gostaram muito da forma como o Carlos Queiroz descreveu o estilo arquitectónico dos Jerónimos e da Torre de Belém. Depois jogámos contra a Albânia. Aí empatámos e nem fomos muito bons anfitriões, até porque a esmagadora maioria dos jogadores nacionais nem sabia que a Albânia era um país. Há um tempo jogámos contra a Finlândia. Aí até ganhámos, mas arrastámos até ao Algarve uma carrada de gente branquinha, que virou camarão depois de apanhar 5 minutos com sol. Hoje... ai hoje, jogámos contra a Suécia, rematámos muito, mas não marcámos nenhum golo. Não íamos estragar a visita de gente nórdica à cidade Invicta. Depois de gostarem tanto dos Clérigos, dos Aliados, das pontes sobre o Douro, de saborearem as tripas e as francesinhas, não podíamos dar uma machadada fatal e de maus gosto com uma vitória. Era no mínimo uma atitude de fraca visão de futuro. Quantas mais vezes perdermos com adversários estrangeiros, mais turistas poderemos ter em solo português, dado que não hesitam em visitar um país que perdeu com a Selecção Nacional do seu país de origem. Nós até nos demos ao luxo de perdermos duas vezes com a Grécia no Euro 2004. E tudo isto porquê? Por sermos piores do que eles? Claro que não! Perdemos duas vezes com os helénicos por duas razões distintas: primeiro, porque queríamos ir mostrar que também temos em Évora um templo parecido com as construções da Grécia da Antiga; em segundo, porque insistimos que havíamos de finalmente arranjar alguma coisa para podermos explicar o significado da expressão "até nos vimos gregos" sem meter os pés pelas mãos. Poupámos muito trabalho para o futuro. Sempre que alguma criança nos perguntar o que quer dizer a expressão, podemos logo dizer, com um ar eloquente: "Sabes, meu filho, há muito tempo, em 2004, a selecção portuguesa perdeu dois jogos com a Grécia, no Campeonato Europeu de Futebol. Em seis jogos, ganhámos quatro e só perdemos esses dois. Desde aí, esta expressão é aquilo que hoje vês!".

Claro que depois ficamos de pé atrás se a criança nos perguntar: "Olha, o Cavalo de Tróia era de Tróia?"/ "- Sim, claro que era de Tróia!" / "Ahhh... é que eu fui a Tróia uma vez e só vi roazes e uns prédios com campos de ténis e piscina!".

E então se ocorrer a pergunta: "O Menino Jesus nasceu em Belém?"... Isso sim, será caso para ficarmos a pensar, porque o miúdo tanto pode estar a falar de Belém de Israel, ou de Belém dos pastéis. É por estas e por outras que Portugal tem muitos nomes que não devia ter. Claro que não nos podemos esquecer que há os engraçadinhos que dizem que já foram a Cuba. Nós acreditamos e perguntamos se viram o Fidel Castro. Logo a seguir somos ridicularizados, por nos dizerem: "Eheheh, eu sabia que ias cair nesta! Eu fui a Cuba, mas a Cuba que há no Alentejo!"

Bem, acho que estou a alongar-me demasiado e vocês não merecem isto, dado que já chegou não termos perdido com a Suécia. Se tivéssemos perdido ainda podíamos insultar com mais legitimidade jogadores, equipa técnica e direcção da Federação. Agora só podemos dizer que rematámos muitas vezes, mas que nos faltou sorte. Sim, sorte. A culpa é sempre da sorte! É como a crise... A culpa é sempre da sorte e da crise. Espero não me lembrar de mais nada. Ah, e do Governo! A culpa é sempre da sorte, da crise e do Governo.

Boa noite a todos!

PorPedro Fernandes Martins à(s) 22:50

1 comentários:

Vasco Costa disse... 29 de março de 2009 às 00:16  

Texto muito engraçado. Bom e oportuno sentido de humr, Pedro.

Realmente a culpa nunca é nossa. Os problemas vêm todos de fora. Depois, claro, como (quase)toda a gente pensa assim, ninguém assume as culpas e tenta corrigir os erros.

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